BORBOLETAS NO JARDIM

BORBOLETAS NO JARDIM

Ana Claudia Alleotti

Lendo um artigo sobre a necessidade das borboletas no equilíbrio dos ecossistemas, me encontrei em devaneio na companhia desses insetos alados.

O artigo dizia, entre outras informações que as borboletas habitam a Terra há pelo menos 50 milhões de anos. Cientificamente, sabemos hoje que elas são indicadoras da saúde de um ecossistema porque vivem onde fauna e flora seguem em equilíbrio.

Mas, fugindo da seca linguagem científica, o devaneio me levou para outras paragens…Imaginando a miríade de cores e formas que alegram as matas, os parques, os jardins, as montanhas e até alguns lugares áridos. Visões de puro encanto.

Na psicologia elas ocupam lugar de honra: secretamente se escondem na própria origem da palavra. Psiquê em grego significa alma, alma humana. E, também, em grego arcaico, borboleta. A origem da palavra remete a “soprar”, fazendo referência ao alento, sopro de vida que anima o corpo.

Na mitologia grega, Psiquê é representada com asas de borboleta. O mito grego de Eros e Psiquê fala da união da alma com o Eros (princípio do Amor) divino. Uma história de amor entre um deus e uma mortal mais bela que a própria Afrodite. O casal se separa, gerando sofrimento aos dois. Para reencontrar seu amado, a bela Psiquê deve suportar muitas tribulações e realizar tarefas difíceis. Durante este esforço vai amadurecendo e se transformando. Ao final, o casal volta a unir-se e Zeus concede a imortalidade para Psiquê.

Que símbolo melhor para falar do processo de transformação da alma do que a borboleta?

Do ovo à lagarta, de lagarta à crisálida envolta num casulo de fios e, por fim, a borboleta alada!

A metamorfose do inseto serve de metáfora para os períodos de transformação psicológica, que muitas vezes envolvem recolhimento, reflexão e batalhas internas.

Os antigos egípcios, atentos observadores do ambiente e de tudo que fazia parte daquilo que consideravam o processo contínuo da criação, aprendiam muito com as criaturas que compartilhavam o mundo com eles.

Com as borboletas também aprenderam lições sobre o ciclo de vida-morte-renascimento. Eram vistas como um símbolo de liberdade, vida, renascimento e continuidade da criação – uma boa companhia para se ter na viagem para o mais além. Para garantir isso pintavam borboletas nas tumbas e colocavam amuletos em formato de borboleta junto ao morto.

Alguns estudos sugerem que quando os egípcios representavam borboletas em pinturas, murais e objetos pareciam colocá-las em cenas para mostrar a restauração do equilíbrio na natureza e no processo de criação.

Os povos antigos souberam tirar grandes aprendizagens da natureza porque sabiam da conexão de todas as criaturas na vida do planeta.

Conexão, empatia e observação criaram conhecimentos, imagens e narrativas simbólicas de muita beleza.

E hoje, assim como tantos outros seres, muitas espécies de borboletas correm o risco de extinção. Talvez também corra esse risco a nossa capacidade de viver em harmonia com os ritmos da vida e de reconhecer a importância dos ciclos da alma humana.

A Ecopsicologia reconhece e chama a atenção para a estreita relação entre a saúde humana e a saúde planetária. Por isso, ecopsicólogos propõem a ampliação de consciência, a reconexão e o resgate da empatia com a natureza através de técnicas específicas desenvolvidas para esta finalidade.

Aqui no Pardês olhamos para o processo de crescimento pessoal como quem cuida de um jardim: nos alegramos quando surgem as delicadas borboletas porque sabemos que indicam superação, resiliência e saúde.

No Comments

Sorry, the comment form is closed at this time.